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Taipa de pilão e o estilo colonial paulista


Desde meados dos anos 1990 que descobri um tipo colonial de construção em barro, a casa bandeirista construída em taipa de pilão. Antes desta data, que eu me lembre, nunca tinha ouvido falar em "taipa de pilão" (e olha que eu já morava no estado de São Paulo desde 11 de fevereiro de 1985, quando cheguei em Campinas). Eu conhecia o termo taipa, mas não "taipa de pilão," mas nem sabia que havia duas técnicas básicas de construção em taipa, a "taipa de pilão", mais nobre, e a "taipa de mão" (também chamada de pau-a-pique), mais rústica e menos sofisticada. Claro que o termo que eu conhecia, taipa, era, na verdade, a "taipa de mão" (porque no Nordeste, é este o termo mais empregado e a única técnica usada ainda hoje). Portanto, fiquei muito surpreso em descobrir que havia também uma outra técnica construtiva chamada de taipa de pilão, porque, que eu me lembre e que eu saiba, não havia este tipo de taipa no Nordeste brasileiro, só a taipa de mão em que eram e ainda são construídas as casas do povo mais pobre da região (mas aqui no São Paulo colonial, as casas dos mais abastados na cidade, por exemplo, em sua maioria, também era construída em taipa de mão, ou pau-a-pique e só as construções mais importantes é que eram de taipa de pilão; ou, como também era comum, havia um hibridismo entre as duas técnicas, porque era comum que as casas grandes das fazendas, depois que o café começou a trazer prosperidade, na primeira metade do século XIX, tivessem as paredes externas construídas em taipa de pilão e as internas em taipa de mão).

As casas das camadas mais abastadas e as igrejas, no período colonial, eram construídas em pedra, não em barro, no Nordeste (depois, no século XIX, tijolos, com o aparecimento das olarias e do cimento, mas também aconteceu, no século XX, com o barateamento do cimento, uma mistura da taipa de mão do povo com o cimento, imitando uma parede de alvenaria em tijolos, mas sem os tijolos). Muitas das casas do Morro do Cruzeiro que fotografei, Alagoa Grande, Paraíba, em 1979, eram construídas em taipa, especialmente as que tinham donos com menos recursos financeiros, mas havia também as de taipa cobertas por uma argamassa de cimento, melhoradas, mas com a estrutura interna toda feita de taipa de mão (com os galhos, as ripas, os cipós ou cordas e o barro jogado com as mãos).

Quando descobri esta técnica de construção de paredes e muros em taipa de pilão, não só fiquei maravilhado em saber que era um tipo muito diferente de técnica construtiva, mas que o povo mais aquinhoado de São Paulo e as igrejas eram construídas por este tipo de técnica. Infelizmente, o conhecimento generalizado desta técnica construtiva, com o advento do cimento e da alvenaria em tijolos (que tem pouco mais de cem anos), desde as últimas décadas do século XIX, foi sendo, aos poucos, esquecido pela maioria das pessoas que ainda trabalham com a construção civil. Isto fui logo constatando ao perguntar aos pedreiros se eles sabiam fazer este tipo de construção (porque queria que minha casa, reformada, tivesse algumas paredes em taipa de pilão). A resposta que obtia deles era a de total desconhecimento até da própria expressão "taipa de pilão."

É uma pena que isto tenha acontecido, porque esta técnica não só tem uma beleza rústica que é um diferencial do colonial paulista face ao colonial de outros estados, mas uma milenar técnica de construção bem adequada para o contexto climático e ecológico em que vivemos no século XXI. Ou seja, uma casa construída em taipa de pilão é mais fresca durante o verão e mais quente durante o inverno, porque o barro socado, em grossas paredes, é anti-térmico e protege o interior da casa tanto do calor excessivo do exterior, quanto do frio (diminuindo sobremaneira os gastos com ar condicionado eletricamente, por exemplo). Claro que a técnica tem também suas desvantagens, como qualquer técnica (as casas não podem ter mais do que dois andares e as janelas são menos graciosas, porque a estrutura das paredes, com as vigas de madeira, são importantes para a sustentação do telhado), mas não poderia ter sido erradicada tão radicalmente como foi (hoje só é conhecida por historiadores e arquitetos que tentam resgatá-la do esquecimento, ou por pouquíssimos pedreiros que aprendem, em oficinas realizadas por estes especialistas, a antiga técnica (e são pagos a peso de ouro, nas restaurações de antigas casas e antigas igrejas).

Por isto mesmo é que gostaria de ajudar a resgatar esta técnica através desta postagem, falando sobre sua existência histórica em todo o longo passado colonial e imperial paulista, mas também mostrando algumas imagens antigas e modernas de construções em taipa de pilão para que vocês tenham uma ideia melhor de como é a técnica e como fica a aparência de uma casa construída deste jeito. Em tempos de preocupação com a ecologia, é necessário também resgatar antigos modos de conviver mais harmonicamente com a natureza, através da utilização mais adequada dos materiais disponíveis no ambiente (sem causar grandes danos ambientais e, ao mesmo tempo, adaptando-se mais confortavelmente em relação ao clima), e com construções que usem menos eletricidade em seu refrigeramento ou aquecimento. Alberto Nasiasene Jaguariúna, 21 de janeiro de 2012



Gostaríamos de compartilhar algumas fotos sobre a técnica de construção em taipa de pilão e em taipa de mão, ou casa-de-pau-a-pique, como costumam chamar no centro sul do país. Estas fotos temos compartilhado com nossos alunos aqui em Campinas. Assim fazemos porque sentimos a necessidade de explicar que há duas técnicas de construção em taipa muito importantes para a história brasileira que não podem ser confundidas, porque é preciso resgatar esta técnica e este patrimônio histórico tão importante para a história do país, especialmente para o estado de São Paulo. Infelizmente, este patrimônio e estas técnicas estão quase esquecidos, pelo menos para a grande maioria da própria população paulista. Além da beleza rústica deste tipo de técnica colonial, que precisa ser preservada, há um efeito prático antitérmico que o barro consegue dar à construção (e é por isso que esta técnica tem sido resgatada por alguns arquitetos em construções recentes bem modernas). O barro é também um material de construção bem ecológico e abundante na natureza.

Portanto, queremos explicar, assim como fazemos com nossos alunos adolescentes, que a técnica de taipa de pilão foi muito empregada na construção de casas de fazendas e igrejas no centro sul do país, especialmente no São Paulo colonial (incluindo Campinas), com as suas casas bandeiristas, igrejas e colégios jesuítas coloniais. Ao contrário das cidades coloniais nordestinas, que tinham mais recursos para empregar a pedra em suas construções mais importantes, São Paulo colonial não tinha condições econômicas e técnicas então para assim fazê-lo, por isso utilizou, em larga medida, as construções em taipa de pilão. Esta técnica consiste em socar o barro com a mão do pilão (por isso é chamada de taipa de pilão) entre fôrmas de madeira (chamadas de taipal). Estas fôrmas eram colocadas paralelamente umas às outras com uma certa largura (meio metro ou mais) que pudesse propiciar a formação de paredes ou muros compactos e bem largos (boa parte da muralha da China é construída desta maneira e não com pedra, ao contrário do que muita gente pensa). Depois que se socava o barro bem socado dentro das fôrmas, elas eram tiradas, deixando o muro ou a parede construída em barro visível (que depois era caiado de branco). Esta técnica foi trazida pelos portugueses de Portugal e propiciou construir o patrimônio colonial paulista, porque tem uma durabilidade e resistência muito grande (e muitas delas, felizmente, ainda estão preservadas, porque não foram demolidas).

A outra técnica é a técnica da taipa de mão ou casa-de-pau-a-pique, que ainda é muito utilizada em várias partes do país, mas principalmente entre as populações de baixa renda do Nordeste brasileiro. O barro sempre foi muito utilizado como material de construção de habitações desde a pré-história, tanto na Europa, quanto na África, Ásia e Américas. As primeiras casas mais simples, habitadas pelos mais pobres, no São Paulo colonial, Campinas inclusive, foram construídas também em taipa de mão. Somente os mais ricos e os edifícios das igrejas e colégios jesuíticos é que eram construídos em taipa de pilão. Aliás, a casa bandeirista é uma das características que distingue os paulistas na história da arquitetura colonial brasileira. Por incrível que isso possa parecer, mesmo na capital, São Paulo, graças a Deus, ainda há algumas casas bandeiristas do século XVII preservadas. Aqui em baixo estou colando algumas fotos delas.

Nós, professores de história, e nossos amigos apaixonados pela herança patrimonial histórica paulista, achamos importantíssimo ensinar isto para que nossos alunos possam adquirir um sentimento "orgulhoso" (no bom sentido, é claro) de preservação deste passado colonial de São Paulo que é tão importante para o Brasil (e isto é muito necessário porque, hoje, São Paulo é que é o estado mais rico e modernizado do país que, por uma série de razões, não gosta muito de preservar o seu patrimônio colonial; já que prefere demolir e construir em cima um arranha-céu moderníssimo, desprezando o passado e valorizando unicamente o futuro). Ao ensinar estas coisas, o nosso objetivo, como educadores de história, é fazer com que os nossos alunos (grande parte deles filhos de migrantes, sejam eles de origem italiana, portuguesa, espanhola, japonesa, ou nordestina) se apropriem desse passado e desse patrimônio colonial como passado e patrimônio também deles. Só assim cremos que o patrimônio paulista pode ser preservado da destruição e do esquecimento.



Exemplos ibéricos:

Igreja construída em taipa de Pilão na região de Leão na Espanha. Fonte: Roxane Simi (do Livro Cobijo).

Casa construída em taipa de pilão na mesma região da Espanha. Fonte: Roxane Simi (do Livro Cobijo).

A técnica de construção:

As fôrmas que se usam para fazer uma construção em taipa de pilão. Em português se chama de taipal. Fontes: Roxane Simi (do Livro Cobijo); imagens colhidas na internet

Casas bandeiristas do século XVII ainda existentes em São Paulo, apesar de toda a destruição: Casas do Butatã, do Tatuapé, em São Paulo, casa do Anhanguera em Santa de Parnaíba.

Igrejas


Capela de São Miguel, Igreja do Embu das Artes, capela do sítio Santo Antônio e igrejas de São Paulo (não existem mais porque foram demolidas). Os desenhos são do Belmonte


Diversos tipos de casas de fazenda bandeirista do século XVII:

Detalhes internos de uma casa bandeirista:

Restauro de uma fazenda de café do período do Império, século XIX, em taipa de pilão:

Casas modernas de taipa de pilão:


Rota Mogiana de Alberto Nasiasene é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Compartilhamento pela mesma licença 3.0 Brasil.

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